Miguel
O Arcanjo estava sob seu refúgio, em meio nuvens alvas acinzentadas, era belo, tinha os cabelos negros como a noite sem luar e a pela contrastantemente clara, trajava sua armadura reluzente, em prateado que até para os olhos menos hábeis se mostra não ser do mundo dos homens, o vento esvoaçava sua capa vermelha escura, símbolo do advento. O acampamento dos anjos se erguia sobre as nuvens e mostrava não ter fim. Em meio aos acampamentos ao estilo humano, panos brancos atirados sobre milhares de tendas. Anjos fortes apressavam de um lado para o outro, portando suas espadas e seus giboes brancos e prateados. Asas passavam de um lado ao outro, enquanto alguns simplesmente conversavam ansiosamente sob à escuridão daqueles tempos.
“As crias dos deuses se mostram cada vez mais perfeitas, meu arcanjo” um anjo de menor porte, que trajava um dos gibões padrões da milícia celeste sentou ao lado do arcanjo, pareciam ter uma relação muito forte. “deveríamos ter dado mais atenção às possibilidades”
“Possibilidades, irmão…” a voz do arcanjo era suave como a leve brisa da manhã. “Nada passa despercebido pelos olhos dos deuses, falhamos por termos subestimado os seres inferiores. Quanto a Lucífer, maldito seja! Estúpido suficiente para trair o pai, estúpido o suficiente para não achar que os anões não encontrariam seu metal, e que se voltaria contra ele.”
“Nunca lhe passou pela cabeça que esta estupidez talvez tenha sido proposital?”
“Este pensamento me atormenta até mesmo durante minhas orações.” o arcanjo apoiou sua cabeça na mão aberta, se esforçou abruptamente em tentar invadir uma zona de pensamento que não conseguia há muito, uma espécie de barreira que tentava penetrar há muito tempo. Em desespero socou a escrivaninha do lado da cadeira e gritou.
O grito foi tão alto que calou o acampamento por alguns instantes. Com o silêncio, se ouviu um estrondo na terra. Uma explosão de algo colidindo ao solo, e a terra ficou rubra.
Lúcifer.
Royce
A terra rugia e tremia, parecia que iria explodir a qualquer momento. O conselho se calou e todos se apoiaram nos móveis enquanto o barulho ensurdecedor ecoava pelas salas de pedra da construção. O caos tomou conta do lugar quando guardas empunharam suas espadas e escrivãos começaram a correr e fugir por suas vidas.
Lorde Royce com sua espada em mãos correu para a janela norte, onde se via a colina, e afastou-se do sudoeste, de onde tinha vista o monte Thûm. Da janela, viu um dragão negro em meio ao dia escuro e às nuvens, o dragão voltava sua cabeça para os seus e de sua boca saia o som ensurdecedor. O chão tremia do impacto do ser à terra. O que seria aquilo?
Alguns soldados se aglomeravam na entrada da cidade, na parte interna dos muros em formação de batalha, tão vulnerável perto do gigante.
O grito do dragão cessou, de repente o caos que a terra presenciava se tornou um silêncio frio e ansioso. Por alguns longos instantes assim ficou, e todos permaneceram estupefatos como que se qualquer ação lhes causaria a morte.
Até que o dragão abriu sua boca e no idioma comum, com uma voz ríspida, grave, gigante como ele, disse:
“Sou o Lucifer, o portador da luz maligna, o Belial, o Imundo, o Dragão”
Um longo silêncio novamente se fez entre os homens. E um grito se ouviu dos céus, de onde os arcanjos acampavam.
“Vim lhes propor, seres inferiores…”
Ele pisou e a terra tremeu, mostrando toda a força que continha, e a força que exprimia nas palavras que saiam como um esforço maior do que se quisesse destruir todo o mundo.
“Vim lhes propor uma aliança!” E a escuridão recaiu rubra sobre a terra sob os gritos agudos dos demônios ao lado rubro do monte Thûm.