Os Contos Perdidos do Apocalipse – Ato 3 “A Sombra Sobre a Colina”

Miguel

O Arcanjo estava sob seu refúgio, em meio nuvens alvas acinzentadas, era belo, tinha os cabelos negros como a noite sem luar e a pela contrastantemente clara, trajava sua armadura reluzente, em prateado que até para os olhos menos hábeis se mostra não ser do mundo dos homens, o vento esvoaçava sua capa vermelha escura, símbolo do advento. O acampamento dos anjos se erguia sobre as nuvens e mostrava não ter fim. Em meio aos acampamentos ao estilo humano, panos brancos atirados sobre milhares de tendas. Anjos fortes apressavam de um lado para o outro, portando suas espadas e seus giboes brancos e prateados. Asas passavam de um lado ao outro, enquanto alguns simplesmente conversavam ansiosamente sob à escuridão daqueles tempos.

“As crias dos deuses se mostram cada vez mais perfeitas, meu arcanjo” um anjo de menor porte, que trajava um dos gibões padrões da milícia celeste sentou ao lado do arcanjo, pareciam ter uma relação muito forte. “deveríamos ter dado mais atenção às possibilidades”

“Possibilidades, irmão…” a voz do arcanjo era suave como a leve brisa da manhã. “Nada passa despercebido pelos olhos dos deuses, falhamos por termos subestimado os seres inferiores. Quanto a Lucífer, maldito seja! Estúpido suficiente para trair o pai, estúpido o suficiente para não achar que os anões não encontrariam seu metal, e que se voltaria contra ele.”

“Nunca lhe passou pela cabeça que esta estupidez talvez tenha sido proposital?”

“Este pensamento me atormenta até mesmo durante minhas orações.” o arcanjo apoiou sua cabeça na mão aberta, se esforçou abruptamente em tentar invadir uma zona de pensamento que não conseguia há muito, uma espécie de barreira que tentava penetrar há muito tempo. Em desespero socou a escrivaninha do lado da cadeira e gritou.

O grito foi tão alto que calou o acampamento por alguns instantes. Com o silêncio, se ouviu um estrondo na terra. Uma explosão de algo colidindo ao solo, e a terra ficou rubra.

Lúcifer.

Royce

A terra rugia e tremia, parecia que iria explodir a qualquer momento. O conselho se calou e todos se apoiaram nos móveis enquanto o barulho ensurdecedor ecoava pelas salas de pedra da construção. O caos tomou conta do lugar quando guardas empunharam suas espadas e escrivãos começaram a correr e fugir por suas vidas.

Lorde Royce com sua espada em mãos correu para a janela norte, onde se via a colina, e afastou-se do sudoeste, de onde tinha vista o monte Thûm. Da janela, viu um dragão negro em meio ao dia escuro e às nuvens, o dragão voltava sua cabeça para os seus e de sua boca saia o som ensurdecedor. O chão tremia do impacto do ser à terra. O que seria aquilo?

Alguns soldados se aglomeravam na entrada da cidade, na parte interna dos muros em formação de batalha, tão vulnerável perto do gigante.

O grito do dragão cessou, de repente o caos que a terra presenciava se tornou um silêncio frio e ansioso. Por alguns longos instantes assim ficou, e todos permaneceram estupefatos como que se qualquer ação lhes causaria a morte.

Até que o dragão abriu sua boca e no idioma comum, com uma voz ríspida, grave, gigante como ele, disse:

“Sou o Lucifer, o portador da luz maligna, o Belial, o Imundo, o Dragão”

Um longo silêncio novamente se fez entre os homens. E um grito se ouviu dos céus, de onde os arcanjos acampavam.

“Vim lhes propor, seres inferiores…”

Ele pisou e a terra tremeu, mostrando toda a força que continha, e a força que exprimia nas palavras que saiam como um esforço maior do que se quisesse destruir todo o mundo.

“Vim lhes propor uma aliança!” E a escuridão recaiu rubra sobre a terra sob os gritos agudos dos demônios ao lado rubro do monte Thûm.

Os Contos Perdidos do Apocalipse – Ato 2 “O Achado dos Contos e o Conselho de Guerra”

Royce

Lorde Royce Garrman estava perdido em seus pensamentos, vestindo sua antiga cota de malha e sua surrada capa roxa. Eram tempos difíceis onde se exigiam formalidades, mas não ligava para isso. Todos os senhores independentes foram chamados à Sarazin, a cidade sob a colina para que todos eles se reunissem e fosse formado o Conselho de Guerra.

Não reparou quando o jovem Husjin entrou pela porta após bater algumas vezes. O lorde raramente respondia.

“Meu senhor, a reunião do conselho irá começar dentro de uma hora. Um arauto avisou Sir Oxton pela manhã.”

Royce não se virou, tinha o olhar fixo no monte, nas sombras e na luz pálida, onde acampados estavam anjos e demônios.

“Vá comer, Husjin. Vejo você ansioso desde que chegamos na colina”

“Os homens tinham problemas suficientes pata lidar, senhor”, disse admirando a força com que Royce se mantinha firme, venerava o homem antes mesmo do fato de ele ser seu vassalo. “Não imaginava que os deuses seriam tão cruéis com os seres de Aeru enquanto nossa geração pisasse nessa terra!”

“Talvez homens bons como você seriam arrebatados, como dizia a religião morta. Mas ao que parece eles não contavam que estávamos tão preparados quanto eles para esta guerra, e quem sabe, acabaram por perder sua ‘misericórdia’.”

Os anões do norte mineraram tão fundo quanto jamais se tinha ouvido falar, e encontraram um metal da cor do ferro, mas que exalava uma fumaça dourada sensível apenas aos olhos. Chamaram-no de Metal de Harakaz, em referência ao deus anão das forjas. E descobriram que armas e projéteis deste metal eram capazes de perfurar espíritos e seres místicos, e com este metal em fartura, os anões fabricavam em massa um arsenal capaz de combater anjos e demônios.

“Me sinto honrado por tais elogios, milorde. Peço sua licença para me retirar. Preciso me aquecer, e pelo visto o sol não irá aparecer por entre essas nuvens tampouco o dia irá nos abençoar”

Sir Royce era senhor das terras ocidentais, um reino tão vasto quanto a vista pode alcançar. O castelo de Newell, se erguia como uma arvore solitária em meio a planície do deserto oeste. Com a morte do santo padre, e com a religião disseminada, morta, como agora a chamavam, necessitavam de um novo líder para liderar a revolução dos homens, o Conselho de Guerra, e ele temia pelos homens que fossem governados por esse líder, por suas vidas, não confiava em ninguém para o cargo, mas acima de tudo, temia que fosse ele o escolhido.

Sem sol, apenas com as luzes pálidas rubras e cinza que vinham do monte, o tempo era marcado pelo pêndulo de Sarazin, um grande conjunto de cordas e peças de bronze que batiam a cada segundo. Os pêndulos se chocaram por tempo suficiente e os escravos soaram os sinos que marcavam a passagem de uma hora por duas vezes. Royce embainhou sua espada, jogou o capuz sobre a cabeça e deixou seu quarto rumo ao conselho.

Faeron

A mata exibia uma terrível e desesperadora escuridão, havia alguns dias que o sol não batia na copa das árvores e os pequenos feixes de luzes não as atravessavam fazendo os pequenos riachos que antes brilhavam, parecerem mortos. As sombras pairavam durante o dia, mas as noites estavam ainda mais negras. O vento cortava frio e cruel, e aquela noite em especial, estava sendo longa demais.

Em uma casa encrostada em uma sombra de uma clareira, uma vela permanecera acesa durante toda noite. A casa era feita de pedra, não era comum que fosse, como a maioria das casas de madeira em meio a floresta feita para caçadores passarem as noites nas temporadas de caça. Havia algo naquele lugar que antes, talvez, pudesse ter sido chamado de belo. A clareira se estendia por cerca de trinta metros, e mesmo que nela só havia uma pequena vegetação rasteira, era coberta pelas arvores milenares que se entortavam por cima de sua grandiosidade.

As lendas contavam que as árvores da floresta de Bronwethiel já fora, outrora, a casa dos altos-elfos, os elfos das eras antigas. Quando ainda não tinham sido corrompidos pela ganância dos homens e tido a raça élfica dividida: os elfos de coração puro viajaram até a terra prometida, onde nenhum outro ser poderia alcançar, enquanto os elfos corrompidos se misturaram aos humanos, e eras depois, se tornaram meio-elfos. A casa de pedra estava no coração da floresta, e a magia élfica não tinha força mais ali.

Dentro das paredes de pedra, um ser admirava, sobre uma mesa, um antigo livro. Em volta dele um grande salão onde as paredes eram escondidas por prateleiras e prateleiras se misturava em meio caos de artigos, papiros e pergaminhos. A bagunça do lugar mostrava o quanto o teria revirado desesperadamente por muito tempo. Seu rosto jovem e fino era iluminado de baixo pra cima pela vela solitária que crepitava em meio à escuridão do cômodo e um sorriso indecifrável cortava as alvas bochechas.

Passou a mão sobre a capa empoeirada de couro, revelando a capa cheia de bolor e mofo, onde em meio à vários símbolos se lia: Os Contos Perdidos do Apocalipse. Seu sorriso se alargou ainda mais, sua mente envolvida em milhares de pensamentos. Tomou o livro em suas mãos e com um sopro apagou a vela, trazendo para a noite a escuridão completa.

Toda quinta feira, mais um “Ato”, ou seja, mais um capítulo da série “Os Contos do Apocalipse”, por Tiago Ornelas, o Sr. Armada.

Os Contos Perdidos do Fim do Mundo – Ato 1 (Prólogo)

Prólogo

Aquela névoa sobre o monte Tûhm, negra como as rochas do norte, se mostravam como em nenhum outro ancião pudera viver para ver.

“E vi um grande trono branco e o que estava assentado sobre ele, de cuja presença fugiram a terra e o céu; e não foi achado lugar para eles.”

A luz branca e alva como neve recém caída no mais rigoroso dos invernos, pairava à direita do monte. O negro rubro cruel como a morte, convidativa e sombria como o pecado, pairava à esquerda do monte.

O sinal nos céus não negam, jamais negaram. Pois assim as escrituras já diziam. O amor abandonou o coração dos homens, incapaz de qualquer outra tentativa desesperada de sobrevivência, a semente outrora plantada na criação de cada ser humano, agora se esvaía, assim como a mágica abandonou nossos antigos. No mundo não existia nada que os deuses tinham criado mais, existia apenas aquilo que o homem, esse ser imundo, criou para si. A ganância tomava conta das mentes, e do coração a vingança.

Não há mais vida, as trombetas soaram. Não há mais tempo, não há mais dia, não há mais noite. Não há mais vida.

Os anjos do descanso eterno do Elísio desceram, arcanjos e toda milícia celeste; demônios, do submundo de Hades se ascendem com suas asas negras e garras de sangue manchadas.

Prontos para pegar as almas as que têm direito, as quais por tanto tempo esperaram, vêm buscar pelas criaturas criadas pelos deuses, tão estúpidas e imbecis, e por elas batalhar como se fossem pequenos pedaço de carne.

” O sétimo anjo tocou a trombeta, e houve no céu grandes vozes, dizendo: O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos.”

Mas quando São Rafael Arcanjo, cavaleiro do Apocalipse, em sua carruagem puxada por alvos cavalos de asas, foi ao encontro do papa para tirá-lo do mundo antes da carnificina, encontrou o santo padre morto, assassinado.

Não se sabe quanto tempo se deu até a ira do arcanjo se transformar em medo, quando ao ver que nenhum homem foi retirado da terra.

Os humanos se rebelaram contra o apocalipse.

E de sua carruagem, marchou de volta para o acampamento dos anjos, à direita do monte, para preparar as tropas, a guerra tinha agora três exércitos.

~Sr. Armada~

Aventura nas Terras Protegidas

Alexandre Apolinário, nosso parceiro CobWeb, publicou hoje, dia 16 de Outubro, o prólogo de uma das aventuras que nos deixam curiosos pra ver em um livro de mais de 500 páginas, daqueles que quanto mais demorar melhor.

Sem qualquer forma de “puxa-saquismo”, as aventuras no mundo de Autros e no continente de Vallanar prometem misturar o glamour da era medieval, com uma genial pitada de elementos mais contemporâneos, ao bom estilo “Allods Online”, à minha primeira vista, enchendo meus olhos como algo novo e original.

O prólogo nos dá um panorama do tempo, espaço e situação em que se encontra o continente de Vallanar, onde começa uma busca desesperada pelo elemento que mantém o continente a salvo, o esterotrito, que está se esgotando. Ao que tudo indica, os habitantes do continente vão se ver em uma situação que lhes obrigará uma corrida de desbravação do resto do mundo desconhecido pelos homens em busca da salvação do continente, enquanto tentam esconder dos civis o desespero que se encontram.

Não é preciso ser um leitor tão atento para perceber o belo “acender de luzes” para uma boa fantasia medieval, e por outro lado, elementos mais próximos de nós, onde qualquer semelhança com os dias atuais, pode ser, ou não, pura coincidência.

The Crazy Monster Mansion